terça-feira, 21 de maio de 2013

Além da Escuridão - Star Trek... audaciosamente indo onde nenhum cineasta jamais esteve



Depois de quatro anos de espera, temos a aguardada continuação das aventuras da tripulação da Enterprise nesta nova cronologia do universo de nossa franquia favorita, e por Khaless, esta espera realmente valeu a pena — Além da Escuridão – Star Trek se mostrou um filme maravilhoso que já cai no chão correndo, uma vez que temos a tripulação clássica em suas posições desde o início. Vou a seguir comentar minhas impressões, mas devido ao filme ter tido uma atípica pré-estréia com um mês de antecedência, graças ao fandom nacional e sua mobilização para isso, estou dividindo estes comentários em uma área sem spoilers algum e outra onde praticamente só tem spoilers. Há uma área de buffer entre ambas as partes, então caso não deseje saber nenhuma das surpresas de antemão, você pode sair do artigo de maneira segura.


Além da Escuridão – Star Trek é um espetáculo visual extremamente divertido, mas em momento algum perde o foco daquilo que realmente importa; na realidade, a trama como um todo até me surpreendeu em como está embasada nos melhores valores de Jornada nas Estrelas, e vários momentos do filme estão em tela solenemente para desenvolver esses valores em detalhes. Desta forma, Além da Escuridão consegue ser um excitante filme de ação de verão ao mesmo tempo que não perde nada da essência da franquia, seja enquanto motivações dos personagens, seja enquanto simbologias e mitologias gerais da franquia.


As atuações da tripulação original são novamente muito boas, em particular o Dr. McCoy de Karl Urban, que parece novamente canalizar DeForest Kelley como foi em 2009. A interação Kirk/Spock também está ótima, e Zoe Saldana me satisfez novamente como uma Uhura que tem o que fazer. Eu estava temeroso que a interação entre eles ficasse desequilibrada por o material promocional do filme dar maior destaque a Uhura do que o regular (compreensível sendo a única mulher do elenco clássico) mas McCoy está muito bem presente por todo o filme e não ocorre nenhum desequilíbrio entre o trio, pelo contrário. E mesmo Simon Pegg, John Cho e Anton Yelchin tiveram maior presença desta vez, o que ajudou neste equilíbrio. O elenco de apoio também merece destaque, novamente com Bruce Greenwood como o Almirante Pike, e Benedict Cumberbatch, que está ótimo como Harrison. A performance de Cumberbatch soa por vezes até fria demais, mas bem dentro do tom que se espera para seu personagem.


A trilha sonora é executada como uma extensão da já muito boa trilha sonora do filme de 2009, o que lhe dá uma sensação de continuidade e familiaridade, mas com várias adições que se destacam, como o tema Klingon da vez. E um outro detalhe que me agrada em particular foi a representação da Terra federada no filme. Sou suspeito para falar, é claro, mas a direção de arte do filme e departamentos correlatos fizeram um excelente trabalho em retratar as cidades da capital federada com a majestosidade que a Terra de Jornada merece. Tanto Londres como São Francisco parecem as cidades que conhecemos hoje com a adição de grandiosidade futurista mas sem uma assepsia exagerada nesta retratação, parecem realmente centros urbanos do futuro onde pessoas realmente vive, sem uma assepsia artificial que muitas vezes ocorre em sci-fi.


Enfim, no frigir dos ovos, uma produção de cinema com a grandiosidade que Jornada nas Estrelas merece, executado com habilidade por J.J. Abrams e equipe criativa, e sem perder em momento algum os melhores elementos que fazem de Jornada a fantástica franquia de ficção-científica que tanto amamos. A partir deste ponto, a seção sem spoilers desta review termina. Caso siga adiante, após o espaço antispoilers cautelar, esteja ciente de que muitos detalhes da trama são revelados, então prossiga com cuidado.

Spoilers em 5…

4…

3…

2…

1…

Ainda aqui? Vamos lá.

Então aí tivemos — depois de meses de especulação e várias cortinas de plasma para despistar, vimos que o filme nos entregou o Khan nesta nova cronologia. Como ficou bastante claro, o filme faz uso direto de elementos vistos em Space Seed (TOS), Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan, Jornada nas Estrelas VI: A Terra Desconhecida, e Inquisition (DS9). Isto é uma distinção importante: faz uso de elementos, e não tenta ser um remake de nada anterior.


Algo que não tem sido muito comentado são os elementos de A Terra Desconhecida, que são bem fundamentais para a história como um todo — a explosão de Praxis ocorreu nesta cronologia muito mais cedo do que na anterior, e disto, o desejo de parte do almirantado federado de partir para uma guerra preemptiva com os Klingons também se faz presente, na pessoa do Almirante Marcus. Isso foi um ponto de trama importante de A Terra Desconhecida, e é utilizado aqui para embasar as motivações e plano da Seção 31 sendo levado a cabo por Marcus. Isto serviu muito bem como uma crítica surpreendentemente aberta sobre a militarização da Frota Estrelar, sem soar como pregação inconveniente.


O uso de inúmeros elementos da cronologia original não se limita apenas a estas características básicas da trama, mas há também várias referências diversas, mais do que você pode conseguir contar em uma única assistida. Esses elementos adicionais não precisam servir diretamente a trama do filme (que se sustenta por si mesma) mas são charmosas adições para benefício do fandom.

E é desnecessário dizer que o filme tem excelente continuísmo entre o de 2009, retendo e expandindo vários elementos da trama original, como a técnica de teleporte em dobra de Scotty, por exemplo (e a novelização desenvolve uma explicação melhor para Khan tê-la utilizado). Esse continuísmo interno desta cronologia foi até bem mais forte do que eu imaginava, e de muitas maneiras, Além da Escuridão toca como um segundo ato de um filme de quatro horas, tão uniforme que considerei a transição vinda de 2009.


A propósito, dos sets da Enterprise que ganharam melhorias, fiquei ainda mais fã da engenharia, com a adição do cenário do núcleo de dobra, uma instalação muito bem feita. E o merchã da Budweiser na cena do Scotty no bar foi uma trollada hilária por parte de JJ, intencional ou não…!

Sobre a gritaria “Enterprise na água” que ecoa a gritaria “Enterprise construída em terra” do filme anterior, é importante considerar que os personagens comentam em tela que o procedimento é problemático de ser realizado, mas possível. Portanto, basta-se considerar que as características técnicas da classe Constitution nesta cronologia tornam isso viável — manter a nave submersa em água por algumas horas e utilizar ela na atmosfera de um planeta classe M com alguma capacidade de manobra. Não vejo absolutamente nada de errado com isso, considerando que tais características foram estabelecidas e demonstradas como possíveis pelos personagens. E foi amplamente demonstrado como as capacidades em voo atmosférico da classe são realizadas.

Então é isto, como coloquei na conclusão da seção sem spoilers, mais uma ótima adição ao rol de Jornada nas Estrelas, em um filme que combina bem os melhores valores da franquia a um espetáculo visual extremamente divertido.



"Espaço: a fronteira final. Estas são as viagens da nave estelar Enterprise. Em sua missão de cinco anos... para explorar novos mundos... para pesquisar novas vidas... novas civilizações... audaciosamente indo onde nenhum homem jamais esteve."


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