quinta-feira, 11 de abril de 2013

Filme sobre o polvo Paul revela ameaça de morte e oferta de 1 milhão

Ele pode estar morto, mas está longe de estar esquecido. Um documentário em exibição no Brasil nesta semana relata a extraordinária história de ascensão à fama do polvo Paul, que foi capaz de acertar todas as previsões de jogos em uma Copa do Mundo, oito no total. No filme, além do debate sobre se o molusco tinha de fato alguma espécie de poder místico, existem revelações curiosas, como a ameaça de morte ao vidente e a oferta de 1 milhão de euros de um empresário russo para ter o oráculo dos aquários.

O filme "A vida e os tempos de Paul, o polvo vidente" (The Life Times of Paul the Psychic Octopus) é uma das atrações do festival de documentários "É Tudo verdade", que vai até o domingo em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Para quem de alguma forma passou ileso a esta rocambolesca história em 2010, ou para quem já se esqueceu dela, segue aqui um breve resumo. O polvo Paul tornou-se uma celebridade mundial em questão de dias no aquário marinho de Oberhausen, na Alemanha, a partir da crença de que era capaz de adivinhar o resultado de jogos da Copa de 2010.

The Life Times of Paul the Psychic Octopus

Cartaz do filme "A vida e o tempo de Paul, o polvo vidente", atração do festival de documentários É Tudo Verdade, no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Produção norte-americana de 68 minutos tem a direção de Alexandre O. Philippe.

Filme terá mais uma exibição no festival, em São Paulo, na quinta-feira (11.04): Centro Cultural Banco do Brasil, 14h.
Uma das atrações do filme são depoimentos de dois campeões do mundo pela Espanha: Carlos Marchena e Joan Capdevila.


Segundo o filme em exibição no Brasil, o polvo começou a despertar atenção internacional somente após o quarto acerto seguido. A ideia de submeter o animal ao desafio de prever os resultados da seleção alemã na Copa nasceu com os funcionários do aquário de Oberhausen, que desde o início convocaram a imprensa para testemunhar a atração. A visita das câmeras aumentava à medida que Paul fazia crescer sua coleção de adivinhações.

Antes dos jogos, Paul era colocado diante de duas caixas de acrílico com mexilhões, que é o alimento mais convencional da espécie: uma com a bandeira alemã, outra com o símbolo nacional da seleção adversária. A caixa escolhida era interpretada como uma previsão para o vencedor do confronto.
O documentário exibido no Brasil relata que a celebridade instantânea de Paul foi alvo de ameaças de morte depois de ter acertado a vitória da Espanha sobre a Alemanha na semifinal. Nesta noite, o aquário de Oberhausen precisou de reforço policial. Na manhã seguinte, as paredes do local apareceram alvejadas de ovos.

Com ritmo de videoclipe, através de humor, muita música e recursos visuais, o filme apresenta depoimentos de tratadores do famoso animal, além de fãs e até jogadores da seleção espanhola. Uma das histórias mais curiosas é a que apresenta o agente inglês contratado para cuidar das demandas comerciais e de mídia para Paul, ainda com a Copa em andamento.

Um dos casos que chegou ao escritório do agente Chris Davies foi a proposta de um empresário russo para levar Paul a seu país. A primeira oferta foi de 100 mil euros, que subiu para 300 mil e chegou à espantosa manifestação de 1 milhão. Para frustração do interessado, a frase devolvida era sempre a mesma: "o polvo não está à venda".

A obra em exibição no Brasil começa com a insólita sequência da cerimônia de cremação do corpo de Paul, com depoimentos emocionados de seus tratadores. O filme ainda ouve duas médiuns especialistas em contatos com animais mortos, em cenas que acabam chegando aos espectadores quase como pequenos esquetes de humor no meio do documentário.


Mas também há a parte séria do filme, com palavras de biólogos especialistas em moluscos e com um debate mais conceitual sobre a história de Paul. Com algum exagero, um dos entrevistados diz que o grande legado do polvo era colocar a civilização moderna no desconforto da dúvida de que o futuro pode ser previsto. O documentário registra ainda uma provocação do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, de que o caso do vidente animal ilustrava a "decadência do mundo ocidental".

No documentário também há quem conteste a sabedoria de Paul, sugerindo farsa do espetáculo, com a acusação de mexilhões mais fartos na caixa com a bandeira alemã. Mas o fato é que o polvo previu a eliminação da seleção do país onde vivia e, em seguida, o aquário sofreu pressões para que o vidente atuasse antes da final da Copa, mesmo sem a presença da Alemanha. No fim das contas, a profecia prévia à decisão Espanha x Holanda foi transmitida ao vivo para muitas nações.

Durante a produção, o cineasta suíço Alexandre Philippe teve a oportunidade de passar quatro dias filmando Paul de perto em Oberhausen. O diretor ainda entrou um contato com um matemático que apresentou a conta de que a chance do polvo (ou de qualquer ser vivo) de acertar o prognóstico de oito partidas em série era de 600 para uma.

Supostamente pescado em águas italianas, próximo à ilha de Elba, o oráculo dos aquários também motivou uma disputa surreal por sua cidadania, entre Itália e Inglaterra. Mas o polvo também acabaria virando uma espécie de ídolo cult na Espanha, como o "pulpo Paul", em razão dos acertos pé quente contra Alemanha e Holanda.

Paul teve pouco tempo de "desfrutar" em vida da celebridade instantânea obtida na Copa. O molusco morreu meses depois do Mundial sul-africano, em outubro de 2010, com pouco menos de três anos de idade.

Depois do polvo, uma série de animais profetas apareceu ao redor do mundo para sentenciar resultados esportivos dos mais diversos e até de eleições presidenciais. Mas a busca pelo "novo Paul" ainda não contemplou para valer o afã dos órfãos do molusco. O documentário exibido no Brasil menciona alguns deles, cujas médias de acertos ficam bem aquém do famoso predecessor.

Durante o filme o espectador ainda ouve músicas dedicadas a Paul em várias línguas e, de alguma forma, sai do cinema com uma pergunta na cabeça. Será que a Copa do Mundo no Brasil também será capaz de produzir uma lenda pop tão pegajosa como a do polvo vidente?


Fonte: UOL


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