segunda-feira, 10 de junho de 2013

“Gatsby”: visual exuberante, ritmo frenético e narrativa nem um pouco sutil

 
O diretor Baz Luhrmann continua mantendo sua receita de sempre em “O Grande Gatsby” (The Great Gatsby, 2012): visual exuberante, ritmo frenético, fortes emoções e músicas que fogem do contexto histórico porém combinam com o tom do filme. O filme, que estreou sexta em todo o país depois de uma recepção morna em Cannes, é uma espécie de radicalização de seu estilo, agora potencializado pelo uso dos efeitos visuais em 3D. A narrativa, que não é nem um pouco sutil, nada tem a ver com o espírito dos EUA tradicional criado por F. Scott Fitzgerald (1896-1940).

A adaptação de Baz Luhrmann é a terceira e difere radicalmente de sua antecessora, o filme de 1974 estrelado por Robert Redford e Mia Farrow. O diretor mostra um Jack Clayton frio e um Gatsby misterioso e as vezes desequilibrado. Na verdade, ele não deseja Daisy e sim o que representa: o dinheiro e o poder. Mas Daisy, assim como Gatsby, é só uma imagem vazia.


Em termos de narrativa, ambos os filmes são fiéis, até porque não há qualquer dificuldade na adaptação deste romance. A história é narrada por Nick Carraway, um jovem que acabou de sair da universidade, que tem um emprego em Manhattan e um pequeno chalé em West Egg, onde moram os novos ricos de Long Island. Seu vizinho, Jay Gatsby, é um homem misterioso que dá festas exorbitantes com o objetivo de reencontrar Daisy Buchanan, prima de Nick, que ele amou e perdeu anos atrás. Daisy é casada com o milionário Tom Buchanan, e vive em East Egg, exatamente do lado oposto da baía, onde está o dinheiro tradicional.

Luhrmann passa muito bem a imagem do contexto histórico dos anos 20: Nova Iorque fervilhando em ascensão e as festas de Gatsby. A trilha sonora acerta em cheio (e é talvez a melhor coisa do filme): a estética de opulência do Hip Hop e as batidas de House Music combinam perfeitamente com a história sendo contada e adicionam um toque de ironia.


O filme não passa ao espectador o romance de Fitzgerald, o “sonho americano”. O que o cineasta passa é um lado depressivo e vazio dentro de uma história de amor, que dá errado pois o desejo de Gatsby é demais para Daisy. É quase um remake de Romeu + Julieta, com sentimentos a flor da pele e final trágico.

Além de transformar o filme em um ode à esperança e à superação, Luhrmann retira qualquer subtexto e sutileza, tudo é muito bem explicado pela narração em off de Nick Carraway, todos os sentimentos e pensamentos dos personagens. Por outro lado, os atores dão um show de interpretação. Daisy é frágil e ao mesmo tempo é falsa e sedutora. Leonardo DiCaprio mostra certa dureza em seu Gatsby, no esforço de conter um nervosismo e no controle de quem é, no fundo, uma fraude. Tobey Maguire está mais morno, só servindo como narrador, testemunha e pombo correio. Coitado, é tanta confusão que só na tarde do seu aniversário se lembra da importante data.


Alguns criticam a velocidade dos acontecimentos, mas eu particularmente gosto desse ritmo frenético, que funcionou muito bem inclusive em “Moulin Rouge”. O ponto mais fraco, acredito eu, seria o amontoado de clichês e sequências óbvias, como a narrativa das escritas de Nick acompanhadas das palavras escritas na tela. Esse sim é um aspecto que incomoda, mas, no geral, eu daria nota 7,5 para o filme.

Confira o trailer:


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